Olá! Nesta edição do nosso tradicional “Conto de Bambas” do Padedê, trago diversas experiências de um carnavalesco multifaces. Um pássaro versátil, como bem definiu a Presidente e Porta Bandeira Simone Ribeiro. Em uma tarde agradável na sede da Associação das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre e Rio Grande do Sul, a AECPARS, localizada na Avenida Ipiranga, este personagem do nosso carnaval palestrou para os alunos e instrutores do Padedê do Samba.
Explicando a metamorfose do
nosso enunciando, este personagem descobriu-se beija-flor (é assim que é
conhecido o par da porta bandeira – o mestre sala) e mais tarde transformou-se
em um canário, um dos aclamados intérpretes do Carnaval de Porto Alegre. Esta
“brincadeira” com os pássaros – se deve pelas duas principais atividades por
ele realizadas, que, de mestre sala passou a entoar a voz de cantor e
intérprete.
Paulo Ricardo, o Pulinho Durão,
como é mais conhecido, é um carnavalesco “nato”, que desde a infância permeou diversas
funções no mundo do samba. Vale lembrar que estas histórias que trago para
nossa coluna, tratam-se de um “guerreiro” que, entre outras batalhas, já venceu
muitos carnavais...
Irmão do lendário Paulão da
Tinga, ele criou e imprimiu sua própria estampa na trajetória carnavalesca,
seguindo os passos do irmão no carnaval, porém o fez de forma única. No início
da vida artística, investiu no bailado com a Porta Bandeira. Paulinho revive muitas
histórias, das quais poderíamos escrever diversas matérias relativas a este
interessante e divertido personagem real do carnaval.
Na vida de Mestre Sala, ele nos
conta que era um período difícil, no início dos anos 1980: “[...]... ser um Mestre Sala ou uma Porta Bandeira era
uma tarefa difícil, pois além de dançar por “amor à escola”, os destaques
tinham que ‘se virar’ com a dança e quase que a obrigação de fazer a fantasia...
[...]”. Ele nos conta que tentou desfilar na extinta Beija Flor do Sul, e na
Imperadores do Samba, mas por diversos contratempos, iniciou de fato sua
carreira no Estado Maior da Restinga. Começou na Restinga, quando esta ainda
não tinha quadra de ensaios, e que com o tempo auxiliou na construção das
primeiras paredes da sede social:
[...] ...lembro que quando comecei lá, a escola
não tinha quadra... o Mutti conseguiu o terreno e tinha um pequeno palco, e só...
era de chão batido, aquelas paredes que ficam na direita do pavilhão da sede da
escola de hoje... aquela parede que fica do lado da bilheteria, ajudei a por
tijolos e a virar massa... era um tempo difícil... mas fazíamos pela escola...
[...]
Ao iniciar-se no bailado, em
1984... as dificuldades eram muitas, pois não havia uma referência, não havia
escolas de MS&PB como existem hoje, e quem sabia, não queria ensinar. Conta
que teve algumas noções dos passos com o Mestre Sala Fiapo – mas que este não
sabia que Durão queria dançar, e demonstrava alguns movimentos e trejeitos
exagerados em forma de brincadeira. Porém, Paulinho revela que retirava
ensinamentos naquelas “brincadeiras”,
porém, foi com Birolho da Cuíca que vieram as palavras que o incentivaram e que
iriam mudar seu rumo:
Ele nos conta ainda que,
incentivado por Hélio Garcia (que na época Paulinho dançava com a esposa Tânia
Regina), Helinho incentivava ambos a frequentar uma academia para adquirir
resistência.
Outro fato hilário, que
segundo ele, um dos mais inusitados de sua vida no carnaval, nos conta aos
risos, e que aconteceu quando foi aprender a arte dos bordados das roupas com
Plínio. O modo de aplicar o bordado era algo inusitado, e o Plinio dizia assim:
“pega uma cadeira, sente-se, cruze bem as
pernas, uma sobre a outra e ‘deita’ a roupa sobre a perna... bem assim!’ (risos).
Quando parou de “furar
sapatos” expressão dele, o versátil pássaro passou a vida de canário...
Seguindo o exemplo do irmão Paulão, Paulinho sempre que podia, investia sua voz
potente cantando sambas na Quadra, em intervalos dos ensaios. Em 1994, eis que
ele assume o microfone oficial do Estado Maior da Restinga, e neste ano é
campeão do carnaval. Conta que no ano seguinte as dificuldades foram muitas,
chegando inclusive a vestir a Harmonia da Escola com camisetas compradas nas
lojas Mesbla (foto). Outro reconhecimento
ligado à sua imagem, se deve ao famoso grito de guerra nas arrancadas da
Escola, o “Tinga teu povo te ama!” de
autoria do presidente Ribeiro e entoado também por Paulão, mas que ficou famoso
em sua voz.
Há de se perceber a presença
constante junto à Paulinho de Nara de Xangô, ele sempre recorre a esta para contar
seus feitos, datas e acontecimentos. Uma memória privilegiada de Dona Nara de
Xangô, que é sua irmã, que faz a vez de mãe, segundo ele; um anjo bom que zela
e que cuida de sua saúde.
Enfim, foi uma tarde muito
divertida e informativa, tende ele um muitas experiências, acrescentamos assim
um vasto aprendizado e muitas histórias que cercam este grande carnavalesco que
escreveu nas páginas do carnaval gaúcho seus talentos artísticos, indo do complexo
mundo da dança ao dinâmico e concorrido universo musical, e que segue a ecoar a
sua voz, potente e inconfundível...
Texto original de setembro
de 2014. Site Setor1, Coluna Ouvindo Histórias, textos e entrevistas de Ramão
Carvalho.
O Padedê do Samba presta
esta singela homenagem ao beija-flor que virou canário e agora é uma estrela a cintilar
e a brilhar no céu!
Arquivos.
Foto1: Palestra de Paulinho Durão no Padedê – Fonte:
Ramão Carvalho.
Foto2: Paulinho e Tânia Regina – Restinga – 1986. Fonte:
Arquivo pessoal.
Foto3: Harmonia Musical do Estado Maior da Restinga –
1995. Fonte: Arquivo pessoal.
Texto e imagens: Arquivo Reprodução Padedê® do Samba.
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