sexta-feira, 10 de julho de 2020

O beija-flor que virou canário



Olá! Nesta edição do nosso tradicional “Conto de Bambas” do Padedê, trago diversas experiências de um carnavalesco multifaces. Um pássaro versátil, como bem definiu a Presidente e Porta Bandeira Simone Ribeiro. Em uma tarde agradável na sede da Associação das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre e Rio Grande do Sul, a AECPARS, localizada na Avenida Ipiranga, este personagem do nosso carnaval palestrou para os alunos e instrutores do Padedê do Samba.

Explicando a metamorfose do nosso enunciando, este personagem descobriu-se beija-flor (é assim que é conhecido o par da porta bandeira – o mestre sala) e mais tarde transformou-se em um canário, um dos aclamados intérpretes do Carnaval de Porto Alegre. Esta “brincadeira” com os pássaros – se deve pelas duas principais atividades por ele realizadas, que, de mestre sala passou a entoar a voz de cantor e intérprete.
Paulo Ricardo, o Pulinho Durão, como é mais conhecido, é um carnavalesco “nato”, que desde a infância permeou diversas funções no mundo do samba. Vale lembrar que estas histórias que trago para nossa coluna, tratam-se de um “guerreiro” que, entre outras batalhas, já venceu muitos carnavais...

Irmão do lendário Paulão da Tinga, ele criou e imprimiu sua própria estampa na trajetória carnavalesca, seguindo os passos do irmão no carnaval, porém o fez de forma única. No início da vida artística, investiu no bailado com a Porta Bandeira. Paulinho revive muitas histórias, das quais poderíamos escrever diversas matérias relativas a este interessante e divertido personagem real do carnaval.

Na vida de Mestre Sala, ele nos conta que era um período difícil, no início dos anos 1980: “[...]... ser um Mestre Sala ou uma Porta Bandeira era uma tarefa difícil, pois além de dançar por “amor à escola”, os destaques tinham que ‘se virar’ com a dança e quase que a obrigação de fazer a fantasia... [...]”. Ele nos conta que tentou desfilar na extinta Beija Flor do Sul, e na Imperadores do Samba, mas por diversos contratempos, iniciou de fato sua carreira no Estado Maior da Restinga. Começou na Restinga, quando esta ainda não tinha quadra de ensaios, e que com o tempo auxiliou na construção das primeiras paredes da sede social:
[...] ...lembro que quando comecei lá, a escola não tinha quadra... o Mutti conseguiu o terreno e tinha um pequeno palco, e só... era de chão batido, aquelas paredes que ficam na direita do pavilhão da sede da escola de hoje... aquela parede que fica do lado da bilheteria, ajudei a por tijolos e a virar massa... era um tempo difícil... mas fazíamos pela escola... [...]

Ao iniciar-se no bailado, em 1984... as dificuldades eram muitas, pois não havia uma referência, não havia escolas de MS&PB como existem hoje, e quem sabia, não queria ensinar. Conta que teve algumas noções dos passos com o Mestre Sala Fiapo – mas que este não sabia que Durão queria dançar, e demonstrava alguns movimentos e trejeitos exagerados em forma de brincadeira. Porém, Paulinho revela que retirava ensinamentos naquelas “brincadeiras”, porém, foi com Birolho da Cuíca que vieram as palavras que o incentivaram e que iriam mudar seu rumo:


[...] “...O Birolho me disse assim: vai, continua dançando, fazendo o que você aprendeu, vai fazendo o que eles te dizem... mas acrescenta um pouco da tua característica... tu pode copiar, mas faz os teus passos também (...) ele dizia para manter o que eles faziam, o que eu entendia e depois que eu colocasse um tempero meu... aprendi isso, foi o que eu fiz...” [...]

Ele nos conta ainda que, incentivado por Hélio Garcia (que na época Paulinho dançava com a esposa Tânia Regina), Helinho incentivava ambos a frequentar uma academia para adquirir resistência.

Outro fato hilário, que segundo ele, um dos mais inusitados de sua vida no carnaval, nos conta aos risos, e que aconteceu quando foi aprender a arte dos bordados das roupas com Plínio. O modo de aplicar o bordado era algo inusitado, e o Plinio dizia assim: “pega uma cadeira, sente-se, cruze bem as pernas, uma sobre a outra e ‘deita’ a roupa sobre a perna... bem assim!’ (risos).

Quando parou de “furar sapatos” expressão dele, o versátil pássaro passou a vida de canário... Seguindo o exemplo do irmão Paulão, Paulinho sempre que podia, investia sua voz potente cantando sambas na Quadra, em intervalos dos ensaios. Em 1994, eis que ele assume o microfone oficial do Estado Maior da Restinga, e neste ano é campeão do carnaval. Conta que no ano seguinte as dificuldades foram muitas, chegando inclusive a vestir a Harmonia da Escola com camisetas compradas nas lojas Mesbla (foto). Outro reconhecimento ligado à sua imagem, se deve ao famoso grito de guerra nas arrancadas da Escola, o “Tinga teu povo te ama!” de autoria do presidente Ribeiro e entoado também por Paulão, mas que ficou famoso em sua voz.

Há de se perceber a presença constante junto à Paulinho de Nara de Xangô, ele sempre recorre a esta para contar seus feitos, datas e acontecimentos. Uma memória privilegiada de Dona Nara de Xangô, que é sua irmã, que faz a vez de mãe, segundo ele; um anjo bom que zela e que cuida de sua saúde.

Enfim, foi uma tarde muito divertida e informativa, tende ele um muitas experiências, acrescentamos assim um vasto aprendizado e muitas histórias que cercam este grande carnavalesco que escreveu nas páginas do carnaval gaúcho seus talentos artísticos, indo do complexo mundo da dança ao dinâmico e concorrido universo musical, e que segue a ecoar a sua voz, potente e inconfundível...

Texto original de setembro de 2014. Site Setor1, Coluna Ouvindo Histórias, textos e entrevistas de Ramão Carvalho.

O Padedê do Samba presta esta singela homenagem ao beija-flor que virou canário e agora é uma estrela a cintilar e a brilhar no céu!

Arquivos.
Foto1: Palestra de Paulinho Durão no Padedê – Fonte: Ramão Carvalho.
Foto2: Paulinho e Tânia Regina – Restinga – 1986. Fonte: Arquivo pessoal.
Foto3: Harmonia Musical do Estado Maior da Restinga – 1995. Fonte: Arquivo pessoal.


Texto e imagens: Arquivo Reprodução Padedê® do Samba. 

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