segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Uma visão do 1º Seminário de MS&PB

Uma visão e uma avaliação do 1º Seminário de MS&PB por Gisele Mendonça.




O primeiro seminário de Mestre Sala e Porta Bandeira, organizado pela Escola de formação Padedê do Samba, teve como tema principal “A dança nobre do carnaval: Estrutura e qualidade.” O evento contou com a participação de grandes profissionais e pesquisadores de Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.

No primeiro dia, abrindo o seminário Simone Ribeiro, presidente do projeto, falou sobre o início do Padedê do Samba, como ele funciona na prática, explicou que a ligação do projeto gaúcho com o projeto carioca é através do mentor Manoel Dionísio que junto com sua equipe em 2010 selecionou alguns nomes para ministrar as aulas aqui em Porto Alegre. 

Além da apresentação de abertura, Simone apresentou a Lei 11.906 de 8 de novembro de 2015. Esta Lei inclui oficialmente no calendário de datas comemorativas e de concientização do Município de Porto Alegre o dia do Mestre Sala, Porta Bandeira e Porta Estandarte que ficou datada com 6 de novembro. A data foi escolhida em homenagem ao primeiro projeto oficializado em Porto Alegre (Padedê do Samba). Essa conquista só foi possivel com a ajuda do Vereador Delegado Cleiton, que também conseguiu o espaço na Camara de Vereadores para que acontecesse o primeiro seminário.

Ramão Carvalho, gaúcho, instrutor do projeto e historiador, contou como surgiu a dança do casal. Iniciando com a colonização e vindo até os dias de hoje, o ponto forte da sua apresentação foi a valorização do tradicionalismo conflitando com inovação. 

“… Antes de inovar, temos que saber que existe uma bagagem cultural dos nossos ancestrais que deve ser preservada e respeitada…” – explica Ramão.

José Bonifácio, coreógrafo do casal de MS e PB da Mocidade Independente de Padra Miguel –RJ – também iniciou a sua apresentação falando da origem, porém deu mais ênfase a questão da identidade. Uma agremiação tem sua identidade, através de seus pavilhões. Cabe aos seus condutores respeitar essa identidade e se esforçar para que ocorra tudo minuciosamente perfeito. 
Bonifácio também esclareceu que um casal não é apenas um casal, mas sim um bailarino de uma arte popular e um atleta, por este motivo tem que existir um extremo cuidado com o seu corpo e alimentação. A preparação física de um casal tem que ser prioridade, pois quando eles passam na avenida podem se deparar com fatores naturais (chuva, vento, extremo calor) que podem ser decisivos na hora de sua apresentação. Um casal tem que saber tranquilamente que a sua dança tem um início, meio e fim. Todas essas três partes podem ser marcadas com um metrônomo, esse app ajuda a marcar os tempos quartenários dentro do samba.

Além de cuidar do corpo, é fundamental ao casal testar a sua fantasia antes, saber como ela funciona. Bonifácio conta que ele sabe montar e desmontar a fantasia do casal, sabe todas a funconalidades de cada pluma, assim se vier acontecer qualquer problema ele sabe como solucionar. 
Além de falar do seu trabalho com casal de Mestre sala e Porta Bandeira, citou alguns nomes ícones para esse quesito e contou um pouco da história de cada um. Exemplo Maçu da Mangueira, Menino dos Passarinhos do Estácio, Dona Vilma com o primeiro talabarte da história, Dóris e Elcio PV, Dodô da Portela, Manoel Dionísio, Gabi e Vivi de São Paulo, entre outros.

Finalizando o primeiro dia do Seminário Cláudio Dominicina, conhecido como Claudinho, Mestre sala, instrutor e diretor da Escola Mestre Dionisio (RJ). Em sua apresentação Claudinho esclareceu a importancia da interação dos demais segmentos da escola de samba com o casal de MS e PB.  O introsamento do coordenador do casal, com diretor de harmonia e diretor de evolução, garante uma boa apresentação do quesito sem pejudicar o restante da escola. Explica que é fundamental que os “guardiões” que irão no dia do desfile fazer a guarnição (espécie de quadrado) para que o casal possa se apresentar, acompanhem todos os ensaios tecnicos do casal. Introsamento, confiança é fundamental para a realização de um bom desfile. A principal função do guardião é proteger o casal, cuidar para nenhuma ala avance no seu espaço de apresentação, mas principalmente os câmeras de televisão.

Quando questionado sobre a importância de um apresentador, Claudinho enfatizou que existem apresentadores que querem aparecer mais que os casais, isso acaba prejudicando o desenvolvimento deles. Um apresentador tem que ter conciência de que ele tem que fazer apenas a apresentação e deixar que o casal faça o show.

No segundo dia de seminário teve como tema o julgamento do casal, com os plestrantes Eliane Sousa e Isabel Cristina, que explicaram de forma sucinta o regulamento e o manual dos avaliadores. Chula e Priscila finalizaram contando um pouco da sua trajetória. 

Iniciando o Seminário Eliane Sousa, pesquisadora, porta bandeira e jurada do carnaval, falou sobre o a ligação da dança do casal com a religiosidade e a ancestralidade. 

“Não aprendemos a dançar com um livro que explica detalhadamente o que temos que fazer, aprendemos de forma oral e corporal, com uma pessoa que tem mais experiênca nos mostrando e falando como temos que fazer.”- explica Eliane.

Um jurado tem que primeiramente que entender o que é o casal de Mestre Sala e Porta Bandeira, para posteriomente saber fazer a sua avaliação, sem deixar as emoções tomarem conta e inteferir na nota. Quando fala-se em avaliação, os jurados tem que levar em conta a leveza, a harmonia, a técnica e o cumprimento dos passos obrigatórios sem deixar de perceber a poesia que existe na execução do bailado. 

Os casais no dia do desfile têm que revisar todas as suas indumentárias, pois se algo na fantasia estraga isso prejudica na nota do casal, pois ele é avaliado como um todo. 
Isabel Cristina, Porta Bandeira, jurada e coordenadora de jurados, explicou que quem deseja ser jurado um dia, precisa saber que fará escolhas. Antes de ser coordenadora de jurados do quesito de mestre sala e porta bandeira em São Paulo, Isabel já havia sido jurada de 2005 à 2011. Em 2013 enviou o seu currículo e um projeto para poder ter-se coordenadora. Nesse projeto ela teve que colocar o que entendia do quesito, dar sugestões de argumentos e etc. Percebeu que um dos maiores problemas que existia era justamente a argumentação dos jurados para os casais. Mesmo não sendo uma tarefa fácil ela conseguiu ser selecionada. 

O que faz um coordenador de jurado?
Ele tem uma parceria direta com a Liga das Escolas de Samba;
Pode mudar o regulamento;
Seleciona os jurados para o dia do desfile;
Organiza e da cursos para esses jurados selecionados;
Faz uma dos erros e acertos de cada jurado com imagens das apresentações dos casais. (um encontro com os jurados e em outro momento com os casais e presidentes das agremiações)
Toda a defesa de argumento e nota debatida é filmada.

Todos esses procedimentos têm como principal objetivo fazer com que diminua a subjetividade nas justificativas. Para que nenhum casal tenha mais ou menos décimos descontados a cada cabine com o mesmo erro. Foi criado um critério de julgamentos, que são classificados em leves, médios, graves e gravíssimo. Padronizando o desconto de notas. 
Ao falar da dança do casal ela fez uma reflexão sobre até onde é bom evoluir. 

“existe um excesso de coreografias nos casais hoje em dia que os deixam muito artificiais e robotizados. Sinto falta de ver a dança clássica do casal, e o improviso na dança. Devemos refletir... Será que toda essa mudança foi produtiva?” questiona Isabel.

Finalizando as apresentações, Chula e Priscila contaram um pouco da sua trajetória. São 8 anos de amizade, sintonia e cumplicidade. Durante esse período o casal já passou com problemas na fantasia, sofreram ameaças por não obterem nota máxima entre outros apuros. Superando todos esses obstáculos não desistiram e continuaram juntos. 
Chula se emocionou ao falar do projeto Bailado que iniciou na Estado Maior da Restinga e hoje tem o apoio do Satélite Prontidão. 

“Não existe nada mais gratificante que tu ver crianças que teriam tudo para seguir um mau exemplo, fazendo ao contrário. Seguindo o exemplo do bem.”